O
protesto de um grupo de 13 alunos evangélicos do ensino médio da escola
estadual Senador João Bosco Ramos de Lima - na avenida Noel Nutels,
Cidade Nova, Zona Norte -, que se recusaram a fazer um trabalho sobre a
cultura afro-brasileira – gerou polêmica entre os grupos representativos
étnicos culturais do Amazonas.
Os
estudantes se negaram a defender o projeto interdisciplinar sobre a
‘Preservação da Identidade Étnico-Cultural brasileira’ por entenderem
que o trabalho faz apologia ao “satanismo e ao homossexualismo”,
proposta que contraria as crenças deles.
Por
conta própria e orientados pelos pastores e pais, eles fizeram um
projeto sobre as missões evangélicas na África, o que não foi aceito
pela escola. Por conta disso, os alunos acamparam na frente da escola,
protestando contra o trabalho sobre cultura afro-brasileira, atitude que
foi considerada um ato de intolerância étnica e religiosa. “Eles também
se recusaram a ler obras como O Guarany, Macunaíma, Casa Grande
Senzala, dizendo que os livros falavam sobre homossexualismo”, disse o
professor Raimundo Cardoso.
Para
os alunos, a questão deve ser encarada pelo lado religioso. “O que tem
de errado no projeto são as outras religiões, principalmente o Candomblé
e o Espiritismo, e o homossexualismo, que está nas obras literárias.
Nós fizemos um projeto baseado na Bíblia”, alegou uma das alunas.
Intolerância gera debate na escola
A
polêmica entre os alunos evangélicos e a escola provou a ida de
representantes do Fórum Especial de Lésbicas, Gays, Bissexuais e
Transgêneros do Amazonas, da Ordem dos Advogados do Brasil, secção do
Amazonas, e do Ministério Público do Estado.
Para
a representante do movimento de entidades de direitos humanos e do
Fórum Especial de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros do Amazonas,
Rosaly Pinheiro, a problemática ocorrida na escola reflete uma
realidade de racismo e intolência à diversidade. “Nós temos dados de
que 39% dos gestores e alunos das escolas são homofóbicos. Essa não
pode ser encarada como uma oportunidade para se destacar um fato ruim,
mas sim uma oportunidade de se discutir, de uma forma mais ampla essas
questões com os alunos”,disse.
Para
a representante do Ministério Público, Carmem Arruda,a situação também
deve ser encarada como uma oportunidade de esclarecer a comunidade.“É
uma chance de discutir a diversidade e uma oportunidade de contruirmos
uma conscientização junto não apenas aos alunos, mas sim às famílias
que serão fazem refletidas junto a comunidade”.
Representante
do Fórum pela Diversidade da OAB/AM, Carla Santiago, ressaltou que o
episódio não era para ser encarado como um ato que fere os direitos de
negros, homossexuais, mas sim um momento de conscientizar os alunos
sobre a etnodiversidade. A conversa entre os diversos segmentos
envolvidos prometia uma nova rodada, mas até o fechamento desta edição
estava mantida a posição da escola de cobrar o trabalho original
passado aos alunos pelo professor de História.
Via: A crítica.com
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